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As práticas musicais constituem um campo privilegiado de manifestações alusivas a questões de gênero, bem como a aspectos da sexualidade e da vida amorosa.á um imenso repertório formado por canções das mais diferentes línguas do passado e do presente cuja temática enconttra-se concentrada no que chamamos uma ética do desejo. Formas de amar, modos de se relacionar sexualmente com o outro, de se conduzir numa paixão, de conquistar e ser conquistado, comportamentos que são socialmente valorizados ou repudiados em cada gênero, afirmação de padrões de beleza, exaltação dos atrativos sexuais, os limites de conduta e as transgressões são temas frequentes desse vasto repertório. Concomitantemente, em formas de dança que preveem um diferenciação de gênero e sugerem uma erogenização do movimento corporal, o corpo é colocado em realce nas práticas musicais. Com enfase nas marcações de gêneros e formas de representação do (des)encontro amoroso, práticas musicais como "o baile" constituem uma ocasião social na qual as mesmas são enfatizadas e ritualizadas, colocando em relevo a dimensão erótica e sexual do viver. Como os aspectos sonoros das práticas musicais se situa nesse arranjo? Para além da temática amorosa trazida pela associação com a linguagem e da erotização e representação de gênero no movimento enfatizadas pela dança, que tipo de vínculo pode haver entre os artefatos musicais e a sexualidade? Após refurtar o que identificamos como aqs duas principais tentativas de abordar o problema (a primeira, que chamei de antológica, aqui representada em seu nascedouro pelo pensamento platônico; a segunda, a naturalista-evolutiva, aqui representada por Darwin e seus contemporâneos), propusemos uma abordagem da questão sob a perspectiva de uma técnica corporal específica, em meio ao processo aqui denominado viver na escuta. Seguindo princípios bastante gerais, buscamos escandir as principais etapas de transmissão e consolidação dessa técnica corporal. Procuramos demonstrar o quanto a mesma opera desde a interação vocal entre a mãe (função materna) e o infante, à qual se agregam as conquistas do controle corporal aplicadas na aquisição e no domínio de uma tecnologia doritmo e do canto, pavimentando a progressiva interação simbólica e imaginária com os artefatos musicais e seus usos. Adotando uma vertente dialógica entre Antropologia e a Psicanálise , mais precisamente entre Lévi-Strauss e Freud, que encontrou em lacan a melhor tradução da visada estruturalista do Inconsciente, o autor busca compreender como essa técnica corporal atua na constituição do sujeito e interage com as vicissitudes de suas pulsões. |
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